O que mais machuca
Não é a distância,
A ignorância
Sobre a tua vida.
Não são os golpes precisos
Das más lembranças.
Nem das boas.
Não é pisar nos cacos
De cada sonho
Destruído.
Não é ser estrangulado,
Sufocado
Pelas mãos frias, firmes,
Implacáveis
Do fracasso.
Não é ser pisoteado por um
Exército impiedoso de
Dúvidas.
Não é ser queimado vivo
Pela inquisidora paixão
Que ainda sinto.
Não é ser lentamente torturado
Pelo meu amor próprio e
Pelo meu próprio amor
Que um dia vi nascer, pequeno e indefeso,
E criei.
Não é ter que engolir a seco
Todas as pedras que eu mesmo atirei.
Não é ter meu ego extirpado.
Nem é ver minha alma
Violentada no cárcere.
O que mais machuca, meu amor,
São os profundos lanhos
Dessa navalha afiada
Do teu silêncio.